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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
"Fernando Pessoa"
Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.
"Confúcio
O meu amor me pesa.
Toneladas de mim
abraçam a camélia
do secreto jardim.
O meu amor me leva
através das galáxias
por céus de luz e trevas
fundidas em falácias.
O meu amor é leve:
um fio de cabelo
pousado no universo.
O meu amor é breve:
o apelo de um pêlo
que se transforma em verso.
"Lêdo Ivo"
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
"Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)"